Uma eterna discussão envolve as adaptações de grandes romances às telas. Alguns autores são considerados "inadaptáveis" ao cinema mas, na minha modesta opinião, há alguns que são apenas azarados mesmo.
Philip Roth e Machado de Assis, por exemplo.
2016 assistirá a duas adaptações: Pastoral Americana, que marca a estreia de Ewan McGregor na direção, e Indignação, de James Schamus - este último, aliás, já vem sendo considerado o melhor transplante cinematográfico de um romance de Roth, que podemos colocar no rol dos maiores azarados nesta área.
No Brasil, desperdiçamos inúmeros grandes livros, mas o que acontece com Machado de Assis é notável: qual o grande filme já feito por aqui? Que eu me lembre, o melhor é o Memórias Póstumas com o Reginaldo Faria no papel de Brás Cubas (direção de André Klotzel), mas ainda assim é pouco.
Há, claro, filmes de alta qualidade, compatíveis com suas fontes - Lavoura Arcaica, por exemplo. E outros com grande alcance de público. No passado, Graciliano Ramos foi muito bem tratado também. Mas hoje a maioria das adaptações mais se parece com produções para a televisão - o que não é necessariamente uma crítica.
Ian McEwan é, sem dúvida, dos mais afortunados. Desejo e Reparação, título em português com desnecessário acréscimo, leva às telas um dos melhores romances deste século. A direção é de Joe Wright. E é um tremendo filme. Há ainda um outro, menos badalado, The Innocent, de John Schlesinger. Mas é estrelado pelo Anthony Hopkins e pela Isabella Rosselini, o que, convenhamos, facilita um bocado, além do fato de o próprio McEwan ter se encarregado do roteiro.
Talvez seja esse o ponto. Orson Welles, por exemplo, é o Terceiro Homem, que todos falam ser uma grande adaptação do romance de Graham Greene nas mãos de Carol Reed. Na verdade, porém, a coisa não foi exatamente assim: Greene escreveu - com Welles e Reed - o roteiro do filme, e somente depois resolveu transformá-lo em romance.
E, hoje, os melhores roteiros estão na televisão...
0 comentários:
Postar um comentário