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domingo, 21 de junho de 2015

A Dívida

telefone soa. Atende no terceiro toque.
— Alô?
— A Soraia está?
— Tá na Igreja.
— Que horas aquela piranha volta?
— Mais respeito, dona! Quem tá falando é o marido dela.
— Então o senhor diz pra esta vagabunda me pagar o que deve! Não
trabalho na zona, pra ganhar dinheiro fácil!
— Te deve o quê?
— Noventa reais, pelas três fantasias.
— Que fantasias? Minha esposa detesta carnaval, é
crente! Você deve tá confundido minha mulher com outra
Soraia!
— É esse número mesmo! Quer me enrolar, seu filho da
puta? Quero meus noventa contos pelas fantasias de enfermeira,
polícial e estudante! Se essa vaca não me pagar até sexta, eu vou
na porta dela e armo um escândalo!
— Vai se fudê, mulher doida!
Desligou. Pensamentos atordoados zuniam em sua
cabeça. Foi ao quarto do casal. Por minutos revirou gavetas, vasculhou o armário e cantos suspeitos. Ouviu a chave da porta principal girar. Retornou à sala. Transpirava.
— Chegou cedo, querido.
— Onde você estava?
— Na igreja, onde mais?
— Na porra da sua igreja funciona escola, hospital ou delegacia?
— Quê?
Três facadas no peito. Uma por cada vestimenta erótica.

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Zulmar Lopes
Carioca, jornalista, contista e aspirante a romancista, Zulmar Lopes tem um punhado de prêmios literários, a maioria de nenhuma importância. Membro correspondente da Academia Cachoeirense de Letras (ACL). Roteirista do curta de animação “Chapeuzinho Adolescente”. Em 2011 lançou o livro de contos “O Cheiro da Carne Queimada”. Finalmente concluiu o maldito romance cujo pano de fundo é o carnaval carioca e está na expectativa de que alguma editora incauta se atreva a publicá-lo.
todo dia 21


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