Seguem alguns breves textos da coluna Colcha de Retalhos, homônima do livro que está disponível gratuitamente AQUI:
MATE
Desde o casamento, acostumou-se a ser tratada como uma rainha, ia para onde quisesse, quando quisesse. Quase todos os desejos lhe eram atendidos, com exceção dos que revelava apenas entre quatro paredes. No entanto, devido às regalias, as dificuldades do marido pouco lhe incomodavam até aquela tarde chuvosa.
Ao arrumar as gavetas, para evitar que os velhos pijamas embolorassem, encontrou as cartas e bilhetes. Descobriu naquele momento que ele só se interessava pelas outras rainhas.
Tomada por ira, desgovernada, deixou-se levar pelo primeiro peão que cruzou pela casa.
DESTINO BIPOLAR
Em alguns momentos
A sorte sorri para mim
Mas no momento seguinte
Emburrada
franze o cenho, faz bico
E me dá as costas
LUA DE CHESIRE
A lua, deitada no céu, sorri um sorriso minguado
Ela sabe que, por estas ruas enevoadas, durante a madrugada, encontrará apenas os bêbados e os loucos
POVO DAS SOMBRAS
O povo das sombras aparece sempre no mesmo horário, junto com as sombras, assim que o sol nasce. Sempre muito cedo, ainda na madrugada, mas, aparentemente, sem nenhuma ajuda de qualquer deus.
Preparam seu café antes de você acordar, limpam o escritório antes de você chegar, colocam o ônibus para rodar antes de você se aglomerar ao congestionamento... Ligam os motores e preparam a cidade para você só chegar e sentar na janelinha, exigindo serviço de bordo.
E você nem ao menos os enxerga, faz questão de desviar o olhar.
MATE
Desde o casamento, acostumou-se a ser tratada como uma rainha, ia para onde quisesse, quando quisesse. Quase todos os desejos lhe eram atendidos, com exceção dos que revelava apenas entre quatro paredes. No entanto, devido às regalias, as dificuldades do marido pouco lhe incomodavam até aquela tarde chuvosa.
Ao arrumar as gavetas, para evitar que os velhos pijamas embolorassem, encontrou as cartas e bilhetes. Descobriu naquele momento que ele só se interessava pelas outras rainhas.
Tomada por ira, desgovernada, deixou-se levar pelo primeiro peão que cruzou pela casa.
DESTINO BIPOLAR
Em alguns momentos
A sorte sorri para mim
Mas no momento seguinte
Emburrada
franze o cenho, faz bico
E me dá as costas
LUA DE CHESIRE
A lua, deitada no céu, sorri um sorriso minguado
Ela sabe que, por estas ruas enevoadas, durante a madrugada, encontrará apenas os bêbados e os loucos
POVO DAS SOMBRAS
O povo das sombras aparece sempre no mesmo horário, junto com as sombras, assim que o sol nasce. Sempre muito cedo, ainda na madrugada, mas, aparentemente, sem nenhuma ajuda de qualquer deus.
Preparam seu café antes de você acordar, limpam o escritório antes de você chegar, colocam o ônibus para rodar antes de você se aglomerar ao congestionamento... Ligam os motores e preparam a cidade para você só chegar e sentar na janelinha, exigindo serviço de bordo.
E você nem ao menos os enxerga, faz questão de desviar o olhar.
3 comentários:
Ao contrário do simplismo de Mate, O povo das sombras é, sem dúvida, um texto maduro, com uma mensagem político-social muito forte. O segredo está no simbolismo carregado de implicações, mas, ao mesmo tempo, poético do nome dado ao protagonista coletivo.
Já tive oportunidade de ler Colcha de Retalhos, que adorei e recomendo. Literatura condensada, depurada, sem adjectivação nem artifícios. A essência da palavra! Abraços Luísa Fresta
muito obrigado, Joaquim!
A Colcha é mesmo um terreno de variações e exercícios ... fico feliz que tenha gostado do "Povo das Sombras"
Abraços,
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