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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Colcha de Retalhos #2

Seguem alguns breves textos da coluna Colcha de Retalhos, homônima do livro que está disponível gratuitamente AQUI:


MATE

Desde o casamento, acostumou-se a ser tratada como uma rainha, ia para onde quisesse, quando quisesse. Quase todos os desejos lhe eram atendidos, com exceção dos que revelava apenas entre quatro paredes. No entanto, devido às regalias, as dificuldades do marido pouco lhe incomodavam até aquela tarde chuvosa.
Ao arrumar as gavetas, para evitar que os velhos pijamas embolorassem, encontrou as cartas e bilhetes. Descobriu naquele momento que ele só se interessava pelas outras rainhas.
Tomada por ira, desgovernada, deixou-se levar pelo primeiro peão que cruzou pela casa.




DESTINO BIPOLAR

Em alguns momentos
A sorte sorri para mim
Mas no momento seguinte
Emburrada
franze o cenho, faz bico
E me dá as costas




LUA DE CHESIRE

A lua, deitada no céu, sorri um sorriso minguado
Ela sabe que, por estas ruas enevoadas, durante a madrugada, encontrará apenas os bêbados e os loucos




POVO DAS SOMBRAS

O povo das sombras aparece sempre no mesmo horário, junto com as sombras, assim que o sol nasce. Sempre muito cedo, ainda na madrugada, mas, aparentemente, sem nenhuma ajuda de qualquer deus.
Preparam seu café antes de você acordar, limpam o escritório antes de você chegar, colocam o ônibus para rodar antes de você se aglomerar ao congestionamento... Ligam os motores e preparam a cidade para você só chegar e sentar na janelinha, exigindo serviço de bordo.
E você nem ao menos os enxerga, faz questão de desviar o olhar.


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Rodrigo Domit
Nascido no Paraná e atualmente morando no Rio de Janeiro, Rodrigo Domit é graduado em Comunicação Social e escreve contos e poesias desde 2003. É coautor do livro Vem cá que eu te conto (2010) e autor do livro Colcha de Retalhos (2011). Entre outros certames literários, já foi selecionado nos concursos Luiz Vilela (Contos - 2007), Helena Kolody (Poesias - 2008 e 2009), Prêmio Nacional SESC (Livro de Contos - 2008) e Prêmio ler&Cia - Livrarias Curitiba (Contos - 2011); Além destas classificações, foi 1º colocado nos concursos: Machado de Assis - SESC-DF (Contos - 2011), Prêmio Cidadão (Poesia - 2011), Concurso Literário de Suzano (Poesia - 2012) e Prêmio Utopia (Livro de Contos - 2010). Colabora na produção e seleção de conteúdo para o jornal Algo a Dizer e mantém publicações mensais no jornal Sobrecapa Literal e neste espaço da revista Samizdat. Além disso, administra o blog Concursos Literários, onde são divulgados certames literários de todo o Brasil, de Portugal e de outros países lusófonos.
todo dia 27


3 comentários:

Ao contrário do simplismo de Mate, O povo das sombras é, sem dúvida, um texto maduro, com uma mensagem político-social muito forte. O segredo está no simbolismo carregado de implicações, mas, ao mesmo tempo, poético do nome dado ao protagonista coletivo.

Já tive oportunidade de ler Colcha de Retalhos, que adorei e recomendo. Literatura condensada, depurada, sem adjectivação nem artifícios. A essência da palavra! Abraços Luísa Fresta

muito obrigado, Joaquim!

A Colcha é mesmo um terreno de variações e exercícios ... fico feliz que tenha gostado do "Povo das Sombras"

Abraços,

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