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domingo, 7 de setembro de 2014

um poema para uma poeta morta

Reprodução
Conheci uma mulher 
nova
também 
poeta
cronista, escritora
também mulher 
que vivia 
onde eu vivo hoje
mas acabo de conhecê-la
e ela está morta

embora seu perfil, sua coluna
seus sites e os insights neles
não: 
a morte virtual deveria fazer 
parte dos ritos funerários.

tive com a morte
uma intimidade 
semelhante àquela
que ela expressava 
quando viva
e ninguém lia 
ninguém 
lia...
ou parecia se importar
com isso
prefiro acreditar que 
ninguém lia

nem mesmo sua biografia
tão cheia de prêmios e 
os planos esquecidos
no canto de um lugar comum
de escritos que eu ainda frequento
e me assombro
com um fantasma dela 

preso eternamente ali.

e eu li 
eu poderia ter lido antes, confesso 
mão não teria feito 
qualquer diferença.
pois eu li e
não não gostei 
simplesmente
não gostei da poesia dela
e não vou dizer que gosto 
pelo 'simples fato' dela estar morta.
ainda
que pudesse 
ser eu ali.
mas não sou.

há algumas desvantagens em estar morto
uma delas é perder 
[além da vida]
o direito a opinião
e em alguns casos 
opinar parece mais importante
que estar 
vivo.

pelo pouco que li
imagino que ela fosse 
entender tamanha grosseria minha 
disfarçada de sinceridade
patética 
de [falta de] afinidade poética

a verdade 
do que se pensa sobre
a obra 
da vida de um poeta
jamais deveria ser dita
a menos que ela fosse boa 
mesmo
se ele já estiver morto
- ou especialmente 
nessas condições
por respeito

e o respeito muitas vezes
parece ser mais importante que
uma opinião sincera.
e é.

descubro com isso
que não posso partir tão cedo 
pelo simples fato de não ter
ainda escrito 
poemas premiados
poemas aclamados 
poemas muito melhores 
que esse
poema simplesmente 
melhores

que os meus.

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Ju Blasina




todo dia 07


1 comentários:

Páginas amassadas pós-verso é mais desagradável que qualquer gosto amargo. melhor desaparecer ao deixar as letras que estão nas prateleiras virtuais ou reais.

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