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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sol a gosto



Céu sem nuvens, sol a gosto. Assim os dias de agosto, pelo menos na cidade em que estou. Agosto é mês aziago. Tão aziago que às vezes chega antes. O último julho trouxe consigo nítidos sinais de agosto e, em razão disso, embrulhou nas dobras do tempo quatro grandes nomes da nossa literatura: Ivan Junqueira, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna. Era de se esperar que agosto, pelo que julho já havia feito, estivesse a gosto. Não foi o caso.

Este agosto que ora finda não deixou de fazer jus à má fama que o acompanha. Desta vez, a tragédia veio a bordo de um bólido tripulado por oito pessoas – entre elas o candidato à presidência Eduardo Campos –, que se espatifou na área urbana de Santos após ter de abortar o pouso por conta das más condições de visibilidade.

Fiel à tradição de mês aziago, foi num agosto que começou o bombardeio dos Estados Unidos sobre o Vietnã. Um mesmo agosto assistiu ao começo da construção do Muro de Berlim.

Agosto foi palco das mortes de Elvis Presley, Raul Seixas, Carmen Miranda, Marilyn Monroe e Caruso. Um agosto calou o inventor do telefone, Graham Bell. Outro agosto calou William Burroughs, o criador do Tarzan, personagem que tinha no grito selvagem uma de suas marcas.

Três poetas fundamentais silenciaram seus versos num agosto: Lorca, Baudelaire e Drummond – este encantou-se apenas duas semanas depois da morte da única filha. Nietzsche, o pensador que enlouqueceu a filosofia, também voou nas asas de agosto. Euclides da Cunha, que entendeu como ninguém os sertões, desafiou a morte em duelo com o cadete Dilermando de Assis – e perdeu. E era agosto.

Agosto assinala a morte de JK, o semeador de utopias. Idem a morte do revolucionário Trotsky, assassinado no México por agentes de Stálin. Agosto marca, por fim, a maior das tragédias nacionais: o suicídio de Getúlio Vargas. Um tiro no peito o tirou da vida e o entronizou na História.

Deste agosto já no fim, e até o próximo novembro, ficaremos, a contragosto, ao gosto das campanhas eleitorais. Há bizarrices pra todo gosto – ou falta de. E sabemos todos: promessa de campanha é dúvida. Dizendo melhor: é certeza. Certeza de muita falação. Muita fala e pouca ação – diga-se.

Mas, “quando entrar setembro, e a boa-nova andar nos campos”, será tempo de abrir as janelas do peito pra ver chegar, outra vez, o sol da primavera. 

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