Céu
sem nuvens, sol a gosto. Assim os dias de agosto, pelo menos na cidade em que
estou. Agosto é mês aziago. Tão aziago que às vezes chega antes. O último
julho trouxe consigo nítidos sinais de agosto e, em razão disso, embrulhou nas
dobras do tempo quatro grandes nomes da nossa literatura: Ivan Junqueira, João
Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna. Era de se esperar que agosto,
pelo que julho já havia feito, estivesse a gosto. Não foi o caso.
Este
agosto que ora finda não deixou de fazer jus à má fama que o acompanha. Desta
vez, a tragédia veio a bordo de um bólido tripulado por oito pessoas – entre
elas o candidato à presidência Eduardo Campos –, que se espatifou na área
urbana de Santos após ter de abortar o pouso por conta das más condições de
visibilidade.
Fiel
à tradição de mês aziago, foi num agosto que começou o bombardeio dos Estados
Unidos sobre o Vietnã. Um mesmo agosto assistiu ao começo da construção do Muro
de Berlim.
Agosto
foi palco das mortes de Elvis Presley, Raul Seixas, Carmen Miranda, Marilyn
Monroe e Caruso. Um agosto calou o inventor do telefone, Graham Bell. Outro
agosto calou William Burroughs, o criador do Tarzan, personagem que tinha no
grito selvagem uma de suas marcas.
Três
poetas fundamentais silenciaram seus versos num agosto: Lorca, Baudelaire e Drummond
– este encantou-se apenas duas semanas depois da morte da única filha. Nietzsche,
o pensador que enlouqueceu a filosofia, também voou nas asas de agosto.
Euclides da Cunha, que entendeu como ninguém os sertões, desafiou a morte em
duelo com o cadete Dilermando de Assis – e perdeu. E era agosto.
Agosto
assinala a morte de JK, o semeador de utopias. Idem a morte do revolucionário
Trotsky, assassinado no México por agentes de Stálin. Agosto marca, por fim, a
maior das tragédias nacionais: o suicídio de Getúlio Vargas. Um tiro no peito o tirou da vida e o entronizou na História.
Deste
agosto já no fim, e até o próximo novembro, ficaremos, a contragosto, ao gosto
das campanhas eleitorais. Há bizarrices pra todo gosto – ou falta de. E sabemos
todos: promessa de campanha é dúvida. Dizendo melhor: é certeza. Certeza de
muita falação. Muita fala e pouca ação – diga-se.
2 comentários:
Obrigada Tarlei, por mais esta linda crônica.
O agradecimento é meu, querida Josi, pela leitura e comentário! Abs, Tarlei
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