Nenúfar
Tenho sido nenúfar
[caule de água fria]
e faço farto amor com o rio
que segue mas nunca
se desvia
dos meus pés-raízes
-sem terra que não buscam nada
não se apegam a nada
só balançam empurrados pela corrente
doce
Tenho sido corpo-flor
aberto à superfície e à volúpia
do vento que me cobiça em desejos
segredados
e espreito a claridade
que me franze os olhos
e invejo o pássaro que mora tão lá
[em cima, acima]
e me arrepio com a chuva que lambe
meu pó
Hoje não quis
ser o que tenho sido
e mergulhei para conhecer
-me inversa
submersa
mas minhas pétalas quebrantaram-se
ante o barro do fundo
e meu caule não foi capaz
de tanta luz
Foto: Tela "Nenúfares" de Claude Monet
5 comentários:
não nos devíamos(!) deixar sem comentários, sem uma palavrinha que dissesse: olhe, estou por aqui e leio o que escreve; e gosto! da prosa mais do que dos versos, mas gosto de uns e dos outros, e deixo beijos
assim, ou parecido :)
Cinthia, sou admirador de sua escrita desde seu primeiro conto que li (aquele que tem "outono" no título). E à medida que conheço seus versos, admiro cada vez mais sua poesia, rica em imagens e reflexões. Parabéns!
Fátima, obrigada! Eu também me prefiro na prosa, mas tem dias que ando amanhecendo versos.
Edelson, meu amigo, obrigada! Na poesia, engatinho. Mas fico feliz com elogios vindos de.escritores a mancheias como Fátima e você!
Um dia, escrevi sobre o luar: "Não importa se é luz própria/Ou do sol quando se ausenta/Tudo em volta faz brilhar/É assim como o artista/Quando ele se apresenta/Tem alguém pra iluminar..."
Pois é, Cinthia, não importa se em versos ou em prosa, o que importa é o olhar.
Otávio Martins.
Otávio, obrigada! Lindo isso sobre o luar. Logo eu, que brinco (?) de uivar pra lua. Vou levar a frase "... o que importa é o olhar". Abraço!
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