(por Ramon Barbosa Franco)
Inspirado em "Ratos e Homens", de John Steinbeck
Era quente como na cidade anterior. Os dois boias-frias chegaram na plantação da usina a pé, vieram caminhando como de costume. O trabalho era no corte da colheita de cana e o manto verde se prolongava por aquele solo paulista, da ponta Oeste do Estado que estava praticamente infestado de cana e fuligem. Jorge, mais ligeiro e esperto, conduzia o colega, Lauro, corpulento e manso. De repente, Lauro estica a mão fechada para Jorge:
"- Ele parou de respirar..." - e, em desespero de criança, passa a chorar - "... o Zé Chico não quer mais respirar Jorge!"
Jorge pega o rato nas mãos:
"- Lauro, este é o quinto Zé Chico que você mata! Você, sua besta, você não sabe que ele é fraco! É um ratinho pequeno porra!"
Lauro, se ajoelha e chora mais forte.
"- Desculpa Jorge, desculpa..."
Jorge, olha para o lamento do amigo, num arrependimento por ter gritado com tão inocente criatura, apesar de monstruosa de grande, manda o Zé Chico para o meio do canavial. Lauro se levanta, se dá conta de que não terá mais Zé Chico por perto e corre para o meio das canas, na tentativa de encontrar o roedor.
"- Deixa isso aí, merda!" - esbraveja o amigo.
"- Cadê?! Cadê?! Cadê o Zé Chico?!" - e para o amigo - "Acha ele Jorge, acha ele Jorge"
Jorge, insatisfeito, deixa o matulão no chão e caminha na direção para onde mandou o rato, por sorte acha o bichinho largado no chão.
"- Tá aqui, tá aqui todo quebrado..."
Lauro, ainda triste:
"-Enterra ele, Jorge. Enterra, enterra ali na sombra daquela paineira"
"- Pra quê? A gente tá aqui de passagem, depois da safra nunca mais a gente volta aqui"
"- Ah, mas quem sabe um dia eu volte para rezar para o Zé Chico..."
Era um paineira, e como estava quente, a sombra convidava para um descanso. Jorge cedeu ao pedido.
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