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domingo, 25 de abril de 2010

Sobreviventes e viajantes

Corro ansioso em sua direção.


Com péssima visibilidade, aciono com dificuldade o dispositivo de vi­são noturna do meu surrado capacete. Vejo os contornos acidentados: vales de rios e canais secos além de montes de ruínas urbanas a serem ainda transpostos para chegar ao misterioso objeto. Pelo sensor infravermelho, vejo que não sou o único a correr naquela direção. Mas não muitos, somos poucos os que sobrevivem na região. Com meu binóculo sensor, vejo dis­tante muitos destroços ardentes abaixo do bojo ileso. O ar cheira a lixo, aço e concreto queimados.

Ofegante de tanto correr, vejo a parte da esfera que toca o solo ainda muito distante, mas acima de mim a sua curva metálica se perde num hori­zonte vertical. Se eu fosse um primitivo, acharia que a própria Lua havia caído na Terra.

Espaçadas centenas de metros um do outro, meus amigos param ante a esfera a distâncias similares um do outro, formando um grande círculo e observam.

Saem de dentro da esfera, como se as suas paredes não fossem sólidas, vários humanoides planando sobre discos metálicos. Um deles voa em minha direção. Fico estático, entre o medo e a curiosidade.

Tem a aparência humana, roupas brancas coladas ao atlético corpo, mas pelo rosto vejo que possui a pele acinzentada. É um pouco maior que eu. Tenho a impressão de já tê-lo visto alguma vez. Talvez num sonho. Ele para a três metros de mim, mostra a palma da mão e me fala numa língua que des­conheço, mas que de alguma forma a ideia me chega à mente:

– Olá, Humano. Sou Atenísia. Estejamos em paz.

– Olá! – Respondo, trêmulo e ofegante. – Paz também. Chamo-me John Calderas. Mas quem são vocês e o que fazem aqui na Terra?

John, somos cientistas. Temos observado como seus planetas estão sen-sen­do devastados e apenas uma minoria de humanos vivem num meio adequado à evolução. A vossa autoextinção será inevitável. Ajude-nos a ajudá-los.

– Por que vocês se interessam por nós?

– Conheça-nos e você entenderá. Sei que você lembrará.

Fico estático, olhando nos cinzentos olhos daquele ser.

– Venha conosco. Não tenha medo. O medo é o filho do desconhecido. Conheça-nos.



Sobreviver abandonado na velha Terra após seu completo exaurimento tem sido muito árduo. – Medito. – Mas entre o medo e uma possibilidade melhor... Esta alternativa se soma à minha curiosidade. Minha intuição é im­pelida por cintilos de memória e eu, finalmente, aceito.

Com um aperto de mãos ela me leva até o disco prateado. Mergulhamos velozes na parede da imensa Lua metálica.

Atenísia pousa no centro de uma vasta sala iluminada. No vazio daquele lugar, sou deixado sozinho. Confiro a qualidade do ar e retiro o capacete. Meu corpo começa a flutuar e gira até parar na horizontal. Deitado no ar, minhas pálpebras pesam, meu corpo vibra como nunca e eu sinto crescer e entrar numa escuridão total. Quando abro os olhos, flutuo sem conseguir ver meu próprio corpo. Observo, logo abaixo de mim, no topo de um edifício, um hu­manoide com olhar vagando na escuridão do céu. Suas feições são familiares. O nome Smelson vem à minha mente. Posso ouvir seus pensamentos...
 
Trecho do Romance: "Retorno ao Big Bang Microcósmico"
http://bigbangmicrocosmico.blogspot.com/

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