Corro ansioso em sua direção.
Com péssima visibilidade, aciono com dificuldade o dispositivo de visão noturna do meu surrado capacete. Vejo os contornos acidentados: vales de rios e canais secos além de montes de ruínas urbanas a serem ainda transpostos para chegar ao misterioso objeto. Pelo sensor infravermelho, vejo que não sou o único a correr naquela direção. Mas não muitos, somos poucos os que sobrevivem na região. Com meu binóculo sensor, vejo distante muitos destroços ardentes abaixo do bojo ileso. O ar cheira a lixo, aço e concreto queimados.
Ofegante de tanto correr, vejo a parte da esfera que toca o solo ainda muito distante, mas acima de mim a sua curva metálica se perde num horizonte vertical. Se eu fosse um primitivo, acharia que a própria Lua havia caído na Terra.
Espaçadas centenas de metros um do outro, meus amigos param ante a esfera a distâncias similares um do outro, formando um grande círculo e observam.
Saem de dentro da esfera, como se as suas paredes não fossem sólidas, vários humanoides planando sobre discos metálicos. Um deles voa em minha direção. Fico estático, entre o medo e a curiosidade.
Tem a aparência humana, roupas brancas coladas ao atlético corpo, mas pelo rosto vejo que possui a pele acinzentada. É um pouco maior que eu. Tenho a impressão de já tê-lo visto alguma vez. Talvez num sonho. Ele para a três metros de mim, mostra a palma da mão e me fala numa língua que desconheço, mas que de alguma forma a ideia me chega à mente:
– Olá, Humano. Sou Atenísia. Estejamos em paz.
– Olá! – Respondo, trêmulo e ofegante. – Paz também. Chamo-me John Calderas. Mas quem são vocês e o que fazem aqui na Terra?
John, somos cientistas. Temos observado como seus planetas estão sen-sendo devastados e apenas uma minoria de humanos vivem num meio adequado à evolução. A vossa autoextinção será inevitável. Ajude-nos a ajudá-los.
– Por que vocês se interessam por nós?
– Conheça-nos e você entenderá. Sei que você lembrará.
Fico estático, olhando nos cinzentos olhos daquele ser.
– Venha conosco. Não tenha medo. O medo é o filho do desconhecido. Conheça-nos.
Sobreviver abandonado na velha Terra após seu completo exaurimento tem sido muito árduo. – Medito. – Mas entre o medo e uma possibilidade melhor... Esta alternativa se soma à minha curiosidade. Minha intuição é impelida por cintilos de memória e eu, finalmente, aceito.
Com um aperto de mãos ela me leva até o disco prateado. Mergulhamos velozes na parede da imensa Lua metálica.
Atenísia pousa no centro de uma vasta sala iluminada. No vazio daquele lugar, sou deixado sozinho. Confiro a qualidade do ar e retiro o capacete. Meu corpo começa a flutuar e gira até parar na horizontal. Deitado no ar, minhas pálpebras pesam, meu corpo vibra como nunca e eu sinto crescer e entrar numa escuridão total. Quando abro os olhos, flutuo sem conseguir ver meu próprio corpo. Observo, logo abaixo de mim, no topo de um edifício, um humanoide com olhar vagando na escuridão do céu. Suas feições são familiares. O nome Smelson vem à minha mente. Posso ouvir seus pensamentos...
Trecho do Romance: "Retorno ao Big Bang Microcósmico"
http://bigbangmicrocosmico.blogspot.com/
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