(Maristela Scheuer Deves)
Com o passar dos dias, minha mãe ficava mais e mais preocupada. E eu também, principalmente depois que comecei a acordar de madrugada e me encontrar, para minha surpresa, parada aos pés da cama de meus pais, contemplando-os sob a luz do luar, a boca salivando.
Horrorizada, eu me obrigava a voltar para o meu quarto, trancar a porta e meter-me outra vez na cama. Somente para acordar dali a uma hora, na mesma situação.
Sem dormir e sem comer direito, fui emagrecendo e empalidecendo a olhos vistos, até ficar branca como o papel, com olheiras pretas sob os olhos. Não tinha fome, mas ardia de sede. Água, refrigerantes e até mesmo bebidas alcoólicas, no entanto, não me satisfaziam. Aos poucos, fui percebendo o que eu queria: sangue.
O meu desespero chegou a tal ponto que implorei a minha mãe que me trancasse no quarto e escondesse a chave. Ela, é claro, não quis concordar, mas eu disse que sumiria de casa se assim não fizesse. Por fim, ela topou, mas nos horários das refeições, abria rapidamente a porta e ali deixava uma bandeja cheia dos meus antigos pratos preferidos.
Para não magoá-la, eu aceitava, mas não conseguia suportar o cheiro da comida. A minha salvação naqueles dias foi um cachorro magro que passava sob minha janela: às escondidas, eu lhe dava as refeições e devolvia os pratos vazios à minha mãe. Mas o melhor mesmo foi que o cachorro foi engordando e se tornando meu amigo, até que uma noite eu, não aguentando mais de sede, atraí o pobre coitado até o meu quarto e, com vontade, cravei os dentes em seu pescoço...
(continua no próximo mês)
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