Raymond Carver
Trad.: Henry Alfred Bugalho
Mais cedo naquele dia, o clima mudou e a neve derretia em água suja. Veios escorriam da pequena janela, à altura dos ombros, que dava para o quintal. Carros patinavam na rua lá fora, que começava a escurecer. Mas estava escurecendo dentro também.
Ele estava no quarto socando roupas para dentro duma valise quando ela apareceu na porta.
Estou feliz que você esteja indo embora! Estou feliz que você esteja indo embora! ela disse. Você está ouvindo?
Ele continuou pondo suas coisas na valise.
Filho da puta! Estou tão feliz que você esteja indo! Ela começou a chorar. Você nem consegue olhar na minha cara, consegue?
Então ela avistou a foto do bebê sobre a cama e a apanhou.
Ele olhou pra ela, ela enxugou os olhos e o encarou antes de se virar e voltar para a sala-de-estar.
Traga isto de volta, ele disse.
Apenas pegue suas coisas e saia, ela disse.
Ele não respondeu. Fechou a valise, vestiu o casaco, escrutinou o quarto antes de apagar a luz. Então ele foi para a sala-de-estar.
Ela estava na passagem para a pequena cozinha, segurando o bebê.
Eu quero o bebê, ele disse.
Você está louco?
Não, mas eu quero o bebê. Vou mandar alguém vir buscar as coisas dele.
Nem pense em tocar neste bebê, ela disse.
O bebê começou a chorar e ela descobriu a manta de sobre a cabeça dele.
Oh, oh, ela disse, olhando para o bebê.
Ele se moveu em direção a ela.
Pelo amor de Deus! Ela disse. Ela recuou para dentro da cozinha.
Eu quero o bebê.
Fora daqui!
Ela se virou e tentou manter o bebê erguido num dos cantos atrás da estufa.
Mas ele veio. Ele alcançou por sobre o fogão e apertou com suas mãos o bebê.
Solte-o, ele disse.
Saia, saia! Ela gritou.
O bebê estava corado e berrando. Na escaramuça, eles derrubaram um vaso que pendia atrás da estufa.
Então ele a prensou contra a parede, tentando fazê-la soltar. Ele segurou o bebê e empurrava com toda sua força.
Solte-o, ele disse.
Não, ela disse. Você está machucando o bebê, ela disse.
Não o estou machucando, ele disse.
Pela janela da cozinha não passava luz. Na penumbra, ele se ocupava dos dedos em punho dela com uma das mãos e com a outra agarrou o bebê pelo braço perto do ombro.
Ela sentiu seus dedos se abrirem à força. Ela sentiu o bebê sendo tirado dela.
Não! Ela gritou assim que suas mãos se afrouxaram.
Ela ficaria com ele, com este bebê. Ela agarrou o outro braço do bebê. Ela segurou o bebê pelo pulso e se reclinou para trás.
Mas ele não desistiria. Ele sentiu o bebê escorregando de suas mãos e puxou para trás com muita força.
Desta maneira, o assunto havia sido decidido.
“Pequenas Coisas” de Where I’m Calling From: The Selected Stories Atlantic Monthly Press, 1988. Copyright © 1988 por Tess Gallagher.
O conto foi publicado como "Meu" em Furious Seasons And Other Stories Capra Press, 1977 e como "Mecânica Popular " em What We Talk About When We Talk About Love Knopf, 1981.
Raymond Carver (25 de Maio de 1938 – 2 de Agosto de 1988)
Escritor norte-americano, célebre por seus contos e poemas minimalistas.
Carver nasceu em Clatskanie, Oregon e cresceu em Yakima, Washington. Carver estudou por um tempo com o escritor e teórico John Gardner na Chico State College em Chico, Califórnia. Publicou um grande número de contos em diversos periódicos, incluindo The New Yorker e Esquire, contos que mais tarde foram reunidos em livros. Suas histórias têm sido incluídas nas mais importantes coleções norte-americanas, como Best American Short Stories and O. Henry Prize Stories.
A escrita de Carver é normalmente associada ao minimalismo. Seu editor na Esquire, Gordon Lish, foi fundamental neste processo. Por exemplo, quando Gardner aconselhava Carver a usar 15 palavras ao invés de 25, Lish aconselhava Carver a usar 5 no lugar de 15. Durante este tempo, Carver também submeteu suas poesias a James Dickey, então editor de poesia da Esquire.
Carver morreu em Port Angeles, Washington, aos 50 anos, vítima de um câncer.
Fonte: Wikipédia
Ele estava no quarto socando roupas para dentro duma valise quando ela apareceu na porta.
Estou feliz que você esteja indo embora! Estou feliz que você esteja indo embora! ela disse. Você está ouvindo?
Ele continuou pondo suas coisas na valise.
Filho da puta! Estou tão feliz que você esteja indo! Ela começou a chorar. Você nem consegue olhar na minha cara, consegue?
Então ela avistou a foto do bebê sobre a cama e a apanhou.
Ele olhou pra ela, ela enxugou os olhos e o encarou antes de se virar e voltar para a sala-de-estar.
Traga isto de volta, ele disse.
Apenas pegue suas coisas e saia, ela disse.
Ele não respondeu. Fechou a valise, vestiu o casaco, escrutinou o quarto antes de apagar a luz. Então ele foi para a sala-de-estar.
Ela estava na passagem para a pequena cozinha, segurando o bebê.
Eu quero o bebê, ele disse.
Você está louco?
Não, mas eu quero o bebê. Vou mandar alguém vir buscar as coisas dele.
Nem pense em tocar neste bebê, ela disse.
O bebê começou a chorar e ela descobriu a manta de sobre a cabeça dele.
Oh, oh, ela disse, olhando para o bebê.
Ele se moveu em direção a ela.
Pelo amor de Deus! Ela disse. Ela recuou para dentro da cozinha.
Eu quero o bebê.
Fora daqui!
Ela se virou e tentou manter o bebê erguido num dos cantos atrás da estufa.
Mas ele veio. Ele alcançou por sobre o fogão e apertou com suas mãos o bebê.
Solte-o, ele disse.
Saia, saia! Ela gritou.
O bebê estava corado e berrando. Na escaramuça, eles derrubaram um vaso que pendia atrás da estufa.
Então ele a prensou contra a parede, tentando fazê-la soltar. Ele segurou o bebê e empurrava com toda sua força.
Solte-o, ele disse.
Não, ela disse. Você está machucando o bebê, ela disse.
Não o estou machucando, ele disse.
Pela janela da cozinha não passava luz. Na penumbra, ele se ocupava dos dedos em punho dela com uma das mãos e com a outra agarrou o bebê pelo braço perto do ombro.
Ela sentiu seus dedos se abrirem à força. Ela sentiu o bebê sendo tirado dela.
Não! Ela gritou assim que suas mãos se afrouxaram.
Ela ficaria com ele, com este bebê. Ela agarrou o outro braço do bebê. Ela segurou o bebê pelo pulso e se reclinou para trás.
Mas ele não desistiria. Ele sentiu o bebê escorregando de suas mãos e puxou para trás com muita força.
Desta maneira, o assunto havia sido decidido.
“Pequenas Coisas” de Where I’m Calling From: The Selected Stories Atlantic Monthly Press, 1988. Copyright © 1988 por Tess Gallagher.
O conto foi publicado como "Meu" em Furious Seasons And Other Stories Capra Press, 1977 e como "Mecânica Popular " em What We Talk About When We Talk About Love Knopf, 1981.
Raymond Carver (25 de Maio de 1938 – 2 de Agosto de 1988)
Escritor norte-americano, célebre por seus contos e poemas minimalistas.
Carver nasceu em Clatskanie, Oregon e cresceu em Yakima, Washington. Carver estudou por um tempo com o escritor e teórico John Gardner na Chico State College em Chico, Califórnia. Publicou um grande número de contos em diversos periódicos, incluindo The New Yorker e Esquire, contos que mais tarde foram reunidos em livros. Suas histórias têm sido incluídas nas mais importantes coleções norte-americanas, como Best American Short Stories and O. Henry Prize Stories.
A escrita de Carver é normalmente associada ao minimalismo. Seu editor na Esquire, Gordon Lish, foi fundamental neste processo. Por exemplo, quando Gardner aconselhava Carver a usar 15 palavras ao invés de 25, Lish aconselhava Carver a usar 5 no lugar de 15. Durante este tempo, Carver também submeteu suas poesias a James Dickey, então editor de poesia da Esquire.
Carver morreu em Port Angeles, Washington, aos 50 anos, vítima de um câncer.
Fonte: Wikipédia
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